Em 1925, ocupava o cargo de Intendente Municipal de Arraias, o Cel. Hildebrando de Sena e Silva, da União Democrática, um dos partidos políticos da época.
Nosso Intendente gozava da estima de todos. Ponderado, cheio de sabedoria, recebeu a Coluna Prestes ao som da boa música da Filarmônica “OITO DE SETEMBRO”, sob a batuta do Mestre Aniceto. Foram executados diversos dobrados, no feliz arranjo do bom Mestre, que traziam os nomes dos mais representativos homens da sociedade arraiana: Cel. Benjamin Aires França, Cel. Antônio Batista Cordeiro (Tonico), Cel. Joaquim Alves Teixeira, Cel. Otávio Magalhães e muitos outros. Os Revoltosos, sob o comando de Luis Carlos Prestes, contaram com excelente hospedagem. Assistiram à missa campal, celebrada pelo nosso estimado vigário, Pe. Emílio Pereira de Miranda e foram até convidados a tomar chá em casa de DÈ Luizinha Santa Cruz.
Diante de toda essa generosidade arraiana, aqueles de Alto Comando viram-se forçados a prometer ORDEM na cidade. A coluna era composta de homens muitos jovens , educados e de idealismo, mas... nela infiltraram-se maus elementos, que destruíam, incendiavam documentos de propriedade ao seu alcance, matavam os que não lhes quisessem mostrar esconderijo de animais, de que necessitavam para sua jornada. Matavam gado para lhes retirar apenas duas costelas de frente destinadas ao seu afamado churrasco a gaúcho, provocando, assim, grande onda de pavor na região. E desse modo, não foi fácil ao Comando manter sua palavra de ordem.
Além do temor de maiores desordens, as famílias aquinhoadas de Arraias tiveram grandes prejuízos, uma vez que os revoltosos levaram suas tropas de animais, cavalos, burros e éguas, único transporte de que dispunham, naquela região. Quando os donos dos animais tentaram recuperá-los pelos caminhos por onde passaram, encontraram alguns ou porque fugiram de volta, ou por cansaço, ficasse em caminho. A maioria, entretanto, deixava amarrados os animais que já não mais lhes servissem, vindo estes a morrerem de fome e de sede. Um fato interessante aconteceu na fazenda Bertioga, município de Arraias. Seu proprietário o Cel. Joaquim Aires França achava-se à porta da casa de sua fazenda arreando sua mula, quando chegou um pequeno grupo de revoltosos, chefiado por um jovem, daqueles bons elementos dispersos, sem rumo, pelo Brasil afora.
Cel. Joaquim Aires, vendo aproximar-se aquele grupo, cruzou no ar sua espada de guarda-nacional e foi dizendo: “Na minha casa, mando eu. O que deseja o senhor?"
E o jovem, admirando aquela figura impávida, de um velho de cabelos brancos a mostrar tanta bravura, respeitou-o e ordenou a retirada do grupo, ficando assim livre o bom Cel. Joaquim Aires de qualquer aborrecimento, bem como sua família. Nem a mula levou, o que nunca dispensavam.
Poucos, porém, tiveram essa sorte. Já nos Alves, fazenda próxima dali, de propriedade do Cel. Joaquim Alves Teixeira, outros grupos se apresentaram, queimando documentos que encontrassem, matando vacas de reserva da porta da fazenda, para o fim exclusivo de aproveitarem poucas costelas para seus churrascos e ainda maltratando os que ali estavam como vigia da fazenda. “Coluna Prestes (Marchas e Combates)” de Lourenço Moreira Lima (Secretário da Coluna Prestes), vimo-lo, com tristeza, dizer que o objetivo da coluna era redimir o Brasil!